13 de maio: dia de resistência, de protestar e não de comemorar!
Notícia publicada dia 13/05/2020 09:07
SINTECT/RJ destaca que não há o que festejar na data. A Lei Áurea que oficialmente extinguiu a escravidão, deixou os negros sem qualquer política de inclusão social, deixando negras e negros à margem da sociedade
Os livros reverenciam e contam que na data de 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, herdeira do trono, assinou a Lei Áurea, extinguindo oficialmente a escravidão no Brasil. O Dia da Abolição da Escravatura, foi instituída no calendário oficial brasileiro como uma data a ser comemorado. Mas para o movimento negro não há o que festejar. Todos devem compreender que a luta deste dia é para relembrar que a abolição foi uma mera formalidade sem qualquer projeto político e social para a população negra recém-libertada.
A diretora Karoline Bandeira, da secretaria da questão racial do SINTECT/RJ ressalta que essa data não é comemorada pelo movimento negro. “É sim, um dia nacional de denúncia contra o racismo. Comparar o 13 de maio de 1888 e o atual não há muita diferença. A atual população negra e maioria dentre o povo brasileiro, ainda convive com o preconceito e a discriminação racial e lamentavelmente sem qualquer política social que garanta igualdade no acesso à educação, saúde, moradia, emprego e renda”.
Também é dia de denunciar e combater o racismo estrutural, instituído culturalmente, e ainda presente na sociedade através da figura do atual presidente que por muitas vezes fez declarações racistas contra o povo negro e quilombola. O estado do Rio de Janeiro sofre com o genocídio de jovens negros nos morros e periferias. O povo negro também sofre com o acesso ao serviço de saúde diante da grave crise da pandemia do novocoravirus que expôs essa desigualdade gritante em nosso estado e no país inteiro.
Herança nefasta
De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) são negros, e estes também são maioria dos pacientes com diabetes, tuberculose, hipertensão e doenças renais crônicas no país – todos considerados agravantes para o desenvolvimento de quadros mais gravosos da Covid-19.
Boa parte dessas comorbidades é ligada a questões sociais, como a falta de saneamento básico, e agravada pelas desigualdades raciais, como condições precárias de moradia, que favorecem doenças como a tuberculose, ou alimentação inadequada, que promove doenças como diabetes e hipertensão arterial.
As condições socioeconômicas geram maior vulnerabilidade em saúde, que vai pesar muito durante a pandemia e já está se expressando nas estatísticas. Os dados iniciais de contágio e morte refletem a primeira onda de contaminados pelo novo coronavírus, que atingiu pessoas de alto poder aquisitivo, que viajaram para fora do país e voltaram com o vírus. São pessoas majoritariamente brancas e que tiveram acesso aos testes e a serviços hospitalares.
Mas à medida em que o vírus avança pelas periferias das grandes cidades, a realidade muda rapidamente, embora seja inadequadamente registrada devido à ausência de testes em massa para a população mais pobre. Inúmeros estudos sérios mostram que os números oficiais estão muito abaixo do real.
Não é só no Brasil
Outros países com passado de escravagismo também refletem a herança nefasta de desigualdade. É o caso do país mais rico do mundo, os Estados Unidos.
Lá também o coronavírus está matando negros em índices mais elevados do que a população em geral, de acordo com números divulgados na Louisiana, Michigan e Illinois. As autoridades desses estados apontam para disparidades no acesso a cuidados e atendimento de saúde como fatores decisivos (nos EUA não existe sistema público de saúde).
O governador da Louisiana, John Edwards, declarou em entrevista recente que 70% das pessoas mortas pelo vírus em seu Estado eram negras, um percentual muito maior do que aquele que os negros representam na população, que é cerca de 33%.
Juntos por justiça social
O neoliberalismo é uma reorganização econômica das forças produtivas a fim de acirrar a exploração sobre os trabalhadores. É também é uma forma de sociabilidade, que induz ao individualismo e a estados mentais e emocionais caóticos, que favorecem a violência, a irracionalidade, a falta de união que é incentivada atualmente no Brasil!
Mas a atual crise tem legado formas diferentes de se relacionar socialmente, com o cuidado, a solidariedade e a coletividade sendo tomados como valores mais centrais. É disso que a humanidade precisa e é imprescindível que o questionamento à ordem econômica global que gera o individualismo e a injustiça seja parte dessa possível mudança nas formas de cuidar de si e dos outros.
O SINTECT/RJ defende que é fundamental construir um projeto político e social voltado para o povo negro, pois mesmo após 350 anos do regime escravocrata, marcas da época ainda precisam ser combatidas. A sociedade brasileira não pode fingir que vivemos numa democracia racial, os trabalhadores devem se organizar e construir uma política voltada para a construção de oportunidades iguais aos negros e negras, construindo um país com mais igualdade racial.