Para além das encomendas. Não é só a mercadoria que está em risco, mas a vida do trabalhador
Notícia publicada dia 09/08/2017 15:26
A reportagem veiculada pela rede Record, no dia 04/08, mostrou um pouco da rotina do trabalhador dos Correios. Por dia, no estado do Rio de Janeiro, a empresa registra uma média de dez assaltos a cargas. Atualmente, dezenas de trabalhadores estão afastados por transtornos mentais causados pelo trauma da violência. Para além das encomendas, o governo, a sociedade e a direção da empresa, precisam pensar na integridade física e mental dos trabalhadores dos Correios.
O caminhão roubado e levado para o morro São João, Zona Norte da cidade, é um exemplo do que acontece frequentemente. Há anos, com o crescimento do e-commerce, a empresa deixou de prestar apenas um serviço postal e passou a atuar como transportadora de carga de valores. Sem a estrutura de segurança necessária, os carros e caminhões de entrega se tornaram alvo de ações criminosas.
A empresa afirma ter investido R$20 milhões em segurança, rastreamento e escolta. Porém, nem um terço dos carros de entrega contam com o serviço de escolta. Para ter uma ideia de como a violência faz parte da rotina dos empregados da empresa, basta olhar os números de assaltos que os trabalhadores acumulam. Há casos de funcionários que foram assaltados mais de 20 vezes. Além do roubo de carga, tem seus pertences pessoais roubados, diversas vezes ficam reféns durante a ação dos bandidos e o pior, a empresa sequer oferece uma estrutura adequada de amparo às vítimas.
Sobre a desumanização dessa relação, o presidente do sindicato dos Correios do Rio de Janeiro Ronaldo Martins, explica como a direção dos Correios age com os trabalhadores. “Não existe o suporte adequado. Temos dezenas de trabalhadores que desenvolveram transtornos, síndrome do pânico, só vivem medicados e tensos. Muitas vezes, são obrigados a retornar para o mesmo local de trabalho, porque a empresa não realiza a transferência para outra unidade como medida de segurança”, explicou.
O representante dos trabalhadores fez um questionamento para reflexão “Você sairia pelas ruas do Rio de Janeiro, nas péssimas condições de segurança pública, sem nenhum aparato privado, carregando algo de alto valor no seu carro, todos os dias? É claro que não. Ninguém quer arriscar a vida. É isso que o trabalhador dos Correios passa todos os dias e ninguém vê”, indagou.
Para Martins, é urgente que a empresa apresente um plano emergencial de segurança para resguardar a integridade física dos trabalhadores e garantir a oferta de um serviço público de qualidade. “A empresa precisa, junto aos órgãos públicos, pensar em uma solução para essa situação. É a vida dos pais e mães de família que estão nas ruas em exercício de suas funções que está em jogo”, ressaltou.