#SaiunaMídia: Atrasos atingem 30% das entregas de produtos no país
Notícia publicada dia 26/02/2018 10:49
No Rio, metade das encomendas enviadas pelos Correios chega após o prazo
Compradora frequente de produtos pela internet, a designer de moda Thabata Maggieri, de 29 anos, já passou duas vezes por atrasos nos últimos dois meses. Em um dos casos, ela desistiu do produto e pediu o dinheiro de volta.
— Depois de muito tempo, a informação que recebi era a de que o produto havia sido extraviado. Disseram que, se ainda quisesse, fariam um novo envio, mas demoraria um pouco mais. Suspendi a compra, mas o ressarcimento do cartão de crédito só veio um mês depois — queixa-se Thabata.
LOJAS DOBRAM PRAZO DE ENTREGA
De acordo com a coordenadora de Atendimento do Procon-RJ, Soraia Panella, o atraso na entrega dos produtos caracteriza falha na prestação de serviço:
— Ainda que esse atraso não tenha sido causado pelo fornecedor, a relação de consumo que existe é com a loja. O consumidor pode desistir da compra e receber o dinheiro de volta. Se houver problemas com o ressarcimento, ele deve procurar os órgãos de defesa do consumidor.
Para mitigar os efeitos dos gargalos de logística e infraestrutura de transporte, as lojas on-line têm adotado algumas estratégias, como o aumento do prazo de entrega. O tempo para o recebimento do produto informado pela empresa variava de três a cinco dias — agora, pode passar de dez dias. Outra medida tem sido a contratação de transportadoras privadas. De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Rodrigo Bandeira Santos, as lojas têm feito grandes investimentos para tentar driblar a crise na distribuição.
— No fim do ano passado, houve um volume muito grande de produtos comprados no comércio eletrônico, e hoje há um engarrafamento de encomendas. As empresas estão investindo em canais de comunicação mais efetivos e em tecnologia para o consumidor ter informações úteis do passo a passo de sua compra — ressalta Bandeira.
A loja gaúcha on-line de vestidos de noiva O Amor é Simples passou, em 2017, por uma prova de fogo. Uma cliente do Rio encomendou a roupa para seu casamento, mas o caminhão dos Correios que transportava o produto foi roubado. Faltava um mês para a cerimônia, e o e-commerce decidiu costurar uma nova peça em tempo recorde, com os mesmos parâmetros e medidas. Para não correr o risco de um novo imprevisto, o produto foi entregue em mãos na casa da noiva.
— Pegamos um avião para cumprir o compromisso — conta Natália Pegoraro, cofundadora da loja.
Para o diretor de Operações da Synapcom, Fernando Gobbi, a transparência na relação entre a loja e o consumidor é uma das saídas para melhorar a experiência de compra, especialmente quando os prazos não são atendidos.
— O mais importante é sempre deixar o cliente informado sobre o trajeto de sua encomenda. O comprador deve saber o motivo do atraso e qual é o novo prazo. Enquanto isso, em paralelo, é preciso trabalhar para que a entrega seja feita o mais breve possível. No caso das transportadoras privadas, por exemplo, a média de atraso é de 10%, contra os 30% dos Correios — compara Gobbi.
NO RIO, ATÉ 40% DOS ENDEREÇOS TÊM RESTRIÇÃO
Segundo o vice-presidente da ABComm, no Rio a falta de segurança tem agravado ainda mais o problema, tornando o produto mais caro para o consumidor por causa do aumento no valor do frete e do seguro:
— Hoje, de 30 a 40% dos endereços da capital e região metropolitana estão com algum tipo de restrição de entrega por causa da violência, tanto nos Correios como nas transportadoras privadas. Além disso, os Correios sofrem de dez a 12 casos de assalto por dia no Rio. Falta braço para as entregas. Ficou mais caro comprar e entregar aqui, por isso o estado vem até perdendo participação na fatia de destino de venda do e-commerce, caindo de 14% para 9,5%, de 2014 para 2017 — observa Bandeira.
Para o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), o cliente acaba sendo punido duas vezes: a primeira com o repasse no aumento dos custos do lojista, e a segunda, com os atrasos.
— O consumidor já está pagando a conta, porque o lojista está embutindo o ônus no preço do produto. Ele não pode ser prejudicado de novo, porque já pagou por aquele imprevisto — explica o advogado do Idec, Igor Marchetti.
Ele observa ainda que, para os consumidores que tiverem prejuízos pelo atraso na entrega, um dos caminhos é recorrer à Justiça, exigindo o ressarcimento dos danos materiais.
— Para recorrer à Justiça, é preciso reunir os comprovantes de prestação de serviços e contratos. Os prejuízos monetários devem ser mensurados pelo consumidor — ressalta Marchetti.
De acordo com os Correios, atualmente 18% dos endereços do Rio são enquadrados como áreas com restrição de entrega. A empresa, porém, não revela o percentual de encomendas com atraso. Até 2020, os Correios estimam investir US$ 133 milhões em seu setor de distribuição, para atualização de equipamentos e implantação de novos sistemas automatizados de triagem. Concluído o projeto, a empresa diz que a capacidade de processamento será de 220 mil encomendas por hora. Já o sindicato que representa os trabalhadores dos Correios relaciona a queda na qualidade do serviço à redução da força de trabalho. Nos últimos sete anos, a empresa perdeu cerca de três mil funcionários em planos de demissão voluntária, além das aposentadorias.
Fonte: O Globo