#SaiunaMídia: Atrasos atingem cerca de 30% das entregas de produtos em todo Brasil
Notícia publicada dia 26/02/2018 10:55
Comprar sem sair de casa, com preços mais em conta e em melhores condições de pagamento são algumas das vantagens que fazem com que cada vez mais consumidores optem pelas lojas virtuais. O problema é que a distribuição e a entrega dos produtos não estão acompanhando o crescimento deste mercado, o que gerou um verdadeiro engarrafamento de mercadorias nas transportadoras, especialmente no eixo Rio- São Paulo. Cerca de 30% dos pedidos de encomendas despachadas pelos Correios estão com algum atraso. Ou seja, a cada mil produtos, 300 chegam depois do tempo prometido ao consumidor, segundo estimativa da empresa Synapcom, de consultoria e gestão de e-commerce. O problema fez disparar o número de reclamações sobre o assunto. Somente no site Reclame Aqui, a quantidade de queixas cresceu 10%, entre 2016 e 2017, passando de 270 mil para 297 mil. Nos primeiros 45 dias de 2018, os relatos chegam a 56 mil.
— A estrutura logística está aquém do necessário. A quantidade de vendas é superior à capacidade de entrega — observa o diretor de operações do Reclame Aqui, Diego Campos.
Para mitigar os efeitos dos gargalos de logística e infraestrutura de transporte, as lojas online têm adotado estratégias como o aumento no prazo para entrega de produtos, além de recorrer a transportadoras privadas. De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Rodrigo Bandeira Santos, as lojas têm feito grandes esforços e investimentos para tentar driblar a crise na distribuição das mercadorias. Segundo ele, no Rio, a falta de segurança tem agravado ainda mais o problema, tornando o produto mais caro para o consumidor por causa do aumento no valor do frete e do seguro:
— Hoje, de 30 a 40% dos endereços da capital e Região Metropolitana estão com algum tipo de restrição de entrega por causa de roubos, nos Correios ou em empresas privadas. Além disso, os Correios sofrem com até 12 casos de assaltos por dia, no Rio. Ficou mais caro comprar e entregar aqui, por isso, o estado vem até perdendo participação na fatia de destino de venda do e-commerce, caindo de 14% para 9,5%.
Direito de desistência
comenda, até a desistência de compras pela internet. Esse é o caso do autônomo Vladimir Nascimento, de 41 anos. Morador de Thomas Coelho, na Zona Norte, ele precisa se deslocar até a Penha para retirar os produtos:
— Há pouco tempo, eu retirava minhas encomendas em Cascadura. Agora, sou obrigado a vir até a Penha para pegar o que compro — reclamou Nascimento.
Mesmo com o pagamento do frete, o produto não foi entregue no seu endereço.
— Nós pagamos por um frete caro, e ainda temos que nos deslocar para retirar o que comprou — desabafou.
De acordo com a coordenadora de Atendimento do Procon RJ, Soraia Panella, o atraso na entrega dos produtos caracteriza uma falha no serviço e descumprimento por parte da loja:
— Ainda que o atraso não tenha sido causado pelo fornecedor, a relação de consumo que existe é com a loja. O consumidor pode desistir da compra e receber o dinheiro de volta. Se houver problemas com o ressarcimento, ele deve procurar os órgãos de defesa do consumidor.
Depoimento: ‘Tive de entregar o produto em mãos ao cliente’, diz Natália Pegoraro, cofundadora do site ‘O Amor é Simples’
“No ano passado, uma noiva do Rio de Janeiro fez a encomenda de um vestido de noivas conosco. Costuramos a peça e enviamos para o endereço. Fazemos um acompanhamento bastante detalhado de cada produto, até pelo valor emocional que ele tem para as clientes, e soubemos que o vestido estava dentro de um caminhão que foi roubado. Faltava um mês para o casamento, mas não deixamos nossa cliente na mão. Era o casamento dela. Costuramos outro vestido, exatamente igual, com as medidas dela, e fomos entregar em mãos, pessoalmente. Saímos do Rio Grande do Sul, onde fica nossa empresa, pegamos um avião para cumprir o compromisso. Já aconteceu, principalmente no Rio, de a noiva não querer comprar conosco porque utilizamos os serviços dos Correios e a noiva não confiava na empresa”.
Roubo de cargas é desafio, diz Correios
Os Correios informaram que hoje 18% dos endereços do Rio estão enquadrados em áreas com restrição de entrega, mas não revela o percentual de encomendas com atraso. Segundo a empresa, um dos grandes desafios hoje é o roubo de cargas, “que gera prejuízos à empresa, ao remetente e ao destinatário, e sequelas ao empregado”. O investimento estimado, até 2020, no setor de distribuição será de US$ 133 milhões na atualização de equipamentos e na implantação de novos sistemas automatizados de triagem. Com a conclusão do projeto, os Correios contarão com sistemas de triagem automatizada com capacidade de processamento de 220 mil encomendas por hora.
O sindicato dos funcionários dos Correios diz que nos últimos 7 anos a empresa perdeu cerca de três mil trabalhadores, em planos de demissão voluntária e aposentadoria.
— Falta funcionário. Estamos com um déficit que ocasiona a sobrecarga de trabalho, e isso faz cair a qualidade do serviço. Isso gera um problema de saúde para os trabalhadores — afirma Ronaldo Ferreira Martins, presidente do sindicato dos Correios do Rio.
Entrevista: ‘No Rio, metade dos pedidos fora do prazo’, afirma Fernando Gobbi, gerente da Synapcom, empresa de consultoria e gestão para e-commerces
Qual é a média de atraso de entrega no Rio de Janeiro?
No Rio, devido à situação da segurança as transportadoras, inclusive Correios, estão deixando de entregar metade das encomendas no prazo. Quando falamos do interior, a entrega deveria ser em até 5 dias uteis. Atualmente, está ocorrendo atraso de dois a três dias. Ao usar diversas transportadoras, passamos de 30% de atraso com os Correios, para uma média de 10% de entrega fora do prazo. Hoje, os Correios são indispensáveis pro e-commerce no Brasil por ser a única transportadora que atende 100% o território nacional, porém o nível de serviço e informação da encomenda ainda não são bons.
Qual política deve ser adotada pela loja quando há atrasos?
O mais importante é sempre deixar o cliente bem informado sobre sua encomenda. Mesmo se ela não estiver no prazo, o comprador precisa saber o por que do atraso e qual será o novo prazo. É preciso trabalhar junto às transportadoras para que a entrega seja feita no prazo mais breve possível. Neste caso, a politica é de clareza na informação ao cliente.
Qual é o impacto econômico para os negócios destes gargalos de logística?
A expansão do negocio é prejudicada uma vez que, em grande parte do Brasil, o custo e prazo do frete inviabilizam uma compra de um produto com tíquete médio não tão alto. Em alguns casos, o cliente desiste.
Fonte: Extra