Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares do Rio de Janeiro

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#ASCOM: Crise dos Correios desagrada consumidores e funcionários desabafam: ‘A culpa não é do carteiro’

Notícia publicada dia 19/03/2018 10:30

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De goteiras a banheiros quebrados, passando por carros danificados, falta de pessoal, assaltos frequentes e sequestros rotineiros. Os problemas citados fazem parte do dia a dia de centenas de funcionários dos Correios no estado do Rio. Na última semana, o EXTRA ouviu as reclamações de dezenas de servidores que lidam com as correspondências e encomendas, que hoje penam para chegar às casas dos consumidores.

— O principal é dizer que a culpa da crise dos Correios não é do carteiro. Uma rotina de trabalho dura mais de 10 horas durante a semana. Ainda enfrentamos falta de segurança e de condições de trabalho — disse um carteiro que pediu para ser identificado como W, pelo medo de retaliação por parte da empresa.

Nos Centros de Distribuição (CDDs) espalhados pelo estado, o retrato é de abandono. Na Tijuca, os últimos meses no espaço foram em meio a goteiras e poças nas salas de triagem. Na Barra da Tijuca e no Recreio, as caixas com cartas e encomendas ficam espalhadas em mesas e pelo chão, devido ao acúmulo de itens. Em Senador Camará, os funcionários convivem com carros e caminhões desativados, enquanto em Realengo, os banheiros estão interditados com problemas.

Queremos condições justas de trabalho. A empresa está com uma política de incentivar a saída de funcionários. Enquanto isso, o acumulo de serviços é grande — disse Ronaldo Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Rio de Janeiro (Sintect-RJ).

Indenizações disparam

Uma auditoria feita pela Controladoria Geral da União (CGU), no segundo semestre de 2017, mostrou o tamanho do problema logístico vivido pelos Correios. Os técnicos do órgão constataram que em seis anos, o volume de indenizações pagas pela empresa por atrasos, extravios e roubos aumentaram 1.054%. Para se ter uma ideia, o peso financeiro, em 2011, sobre essas indenizações foi de R$ 60 milhões. Já em 2016, o valor disparou a R$ 201,7 milhões. O aumento percentual foi de 236% no período.

É o caso, por exemplo, da designer de joias Luciana Albuquerque, de 29. Ela depende dos Correios para enviar seus produtos. Várias vezes, porém, o serviço se torna uma grande dor de cabeça.

— Fiz uma postagem dia 8 de fevereiro e até agora não chegou. Já foram três reclamações sem resposta. Vou ter que postar outra produto e cobrar o que aconteceu com este — disse Luciana.

Outro dado encontrado pelo TCU aponta para o congelamento no corpo funcional. De 2011 a 2016, aumento de 0,43%. A empresa, porém, nega acumulo de trabalho, e aponta reestruturação diante da queda no número de postagens.

Assaltos são rotineiros

O acúmulo de serviço só não é pior que a insegurança para rodar com carros, caminhões ou até mesmo a pé. Entre os funcionários dos Correios, a “disputa” é para saber quem foi o mais assaltado nos últimos anos.

— Em quase 15 anos como carteiro no Rio de Janeiro, já fui assaltado mais de 25 vezes. Além das entregas, levam o dinheiro que temos, celular e o que for de valor. Já perdi três alianças. Só não largo o meu emprego por causa da minha família — lamentou o funcionário D, que preferiu o anonimato.

Segundo os servidores, os assaltos são comuns em bairros da Zona Norte e da Zona Oeste.

— É comum o mesmo grupo de assaltantes cometer o crime em mais de uma oportunidade. Alguns “reconhecem” o bando, mas nada é feito — reforçou D.

Procurados, os Correio informaram que analisam situações de entregas com escoltas ou recomenda a retirada do produto nos Centros de Distribuição. A empresa lembrou, porém, que o assunto é uma questão de Estado. A respeito da situação dos Centros de Distribuição, o órgão tem planos de investimentos em infraestrutura: “em função do tamanho da empresa, problemas pontuais podem existir em algumas unidades”.

Depoimentos

Gabriela Siqueira, de 41 anos.

Dona da loja online “Casa da Gabriela”

‘Enviei um item antes do Natal, mas ele chegou em fevereiro’

Tenho uma loja online de crochê e a maioria das encomendas é enviada pelos Correios. Dependo deles de certa forma. Um caso que aconteceu comigo no passado me chocou. Recebi uma encomenda em novembro, com certa antecedência, pois o cliente gostaria de dar de presente para o Natal. A encomenda era para fora do estado. Fiquei acompanhando o rastreamento, mas sem atualização. O Natal passou, a encomenda não chegou e a gente fica sem saber o que dizer para quem comprou o produto. O item só foi chegar em fevereiro, quase três meses depois da postagem.

Eu me coloquei à disposição da pessoa para enviar um novo produto, mas ela aceitou ficar com o que chegou. Mas é algo ruim. Eu não tenho outra opção se não mandar pelos Correios. Para tornar minha situação ainda mais delicada, meus produtos são feitos à mão, e possuem características próprias. Se já existe o temor quando o transporte é feito de maneira correta, imagina quando não temos ideia do que acontece no caminho até o cliente.

Luciana Albuquerque, de 29 anos.

Sócia do Studio Manual e designer de joias

‘Os problemas não são poucos, mas podem ser solucionados’

Como empresária, recorro diversas vezes ao serviço dos Correios e reconheço a importância da empresa enquanto empresa pública, porém o que mais tenho são histórias de problemas. Um caso, por exemplo, foi um pedido que recebemos no dia 6 de fevereiro e postado no dia 8. Já passamos da metade de março e até agora ele não chegou. O código de rastreamento fala que ele está a caminho, mas não diz exatamente em qual local. Já foram abertos três protocolos de reclamação, mas não tivemos retorno. Já liguei para o atendimento para tratar com algum responsável e não consigo. O jeito será enviar outro produto e resolver depois. Esse atraso já aconteceu outras vezes, às vezes somos informadas que o item foi roubado e recebemos o estorno.

Existem outras casos, mas a responsabilidade não é só dos Correios. Como a questão da Segurança, por exemplo. Os problemas não são poucos, mas podem ser solucionados se houvesse uma melhor gestão e vontade política. Uma pena é que parece haver um movimento do governo no sentido de sucatear o serviço.

Fonte: Extra

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