#OPINIÃOECETISTA: Correios, o espelho do Brasil
Notícia publicada dia 28/06/2017 13:31
Em 1992, um dos meus mais queridos professores surpreendeu todos os alunos (graduandos em História) ao nos informar que vivíamos em um país “…parcialmente socialista…”!?
Espantando a maioria dos presentes, deixando alguns incrédulos e outros até esperançosos. Perguntaram: “socialista… parcialmente…”?
“… caros alunos…” – continuou ele – ele: “…digo parcialmente porque em toda a nossa história as elites brasileiras sempre privatizaram as riquezas e os lucros, enquanto fazem questão de socializar os custos e prejuízos advindos do processo de desenvolvimento econômico e social produzido pelo restante dos brasileiros…”.
E passados 25 anos da aula (profética), vejo que continuamos vivenciando a mesma tragédia travestida na busca por modernidade nas relações de trabalho (reforma da CLT). A malfadada reforma da Previdência Social, e tantas outras ações dos Governos nos últimos 4 anos.
Podemos ver agora, com muito mais clareza, que os lucros aferidos no período de crescimento econômico (2005 a 2012) foram privatizados. Os Dividendos alcançados pelas transnacionais foram enviados as suas matrizes na Europa, Japão, China e EUA. O agro-capital nacional sugou as reservas financeiras sociais através do BNDES, as grandes empreiteiras levaram somas incalculáveis do FGTS para o mercado imobiliário, além de distribuir bilhões e bilhões a políticos e partidos de direita e da pseudo- esquerda na forma de propinas e vantagens indevidas.
O sistema financeiro (ah o sistema financeiro) amealhou fortunas trilionárias servindo de atravessadores para todo esse saque disfarçado de operações financeiras e investimentos no setor produtivo.
A classe trabalhadora, por sua vez, enredada nos discursos capitalistas do desenvolvimento econômico endividou-se num surto de consumismo que, agora, vemos ter servido apenas para multiplicar nossa dependência dentro deste circulo vicioso que impossibilita o usufruto mínimo dos resultados de nosso trabalho social, seja na forma de salário, benefícios ou amparo social.
Estão pondo todo o peso da crise nas nossas costas e dizendo que nós temos de pagar por ela, propondo agora a extinção da CLT, restringindo draconianamente o pouco de amparo previdenciário que nos é oferecido além de condenar os trabalhadores a não mais se aposentarem.
Dentro de nossa Empresa não é diferente. Os lucros produzidos nos períodos anteriores, nossa poupança coletivamente produzida, foi levada de forma direta e indireta.
Indiretamente, nos contratos mirabolantes com fornecedores, empresas prestadoras de serviços (transportadoras, empresas aéreas, etc.), contratação de mão de obra terceirizada, licitações suspeitas, salários astronômicos e privilégios para a alta cúpula da administração central, e seu exército de apadrinhados políticos, que administraram tão mau uma Empresa do porte dos Correios, sem nunca serem sequer censurados por isso.
Nossa reserva financeira administrada pelos políticos enfeudados dentro do Postalis (Previdência Privada) evaporou. Estes senhores conseguiram investir centenas de milhões de dólares em títulos e papeis da Venezuela, Argentina e vários outros que só nos trouxeram prejuízos. Para saudar tais estragos, estamos pagando as contribuições extraordinárias, e temos de chamar de rombo (7 bilhões de reais) os fatos ocorridos, quando todos sabem que outro sinônimo se encaixaria melhor na frase.
E diretamente, através da falta de atualização das tarifas postais por 4 anos consecutivos, além do escandaloso envio de dividendos ao Governo Federal bem acima do previsto pela legislação em vigor, além do criminoso repasse de tais recursos no ano em que a Empresa sequer conseguiu sair do prejuízo.
Nós, trabalhadores Ecetistas, estamos sendo vítimas do mesmo crime que assola o restante de nosso país: quando houve um breve momento de excedente econômico, este foi privatizado. Menos que migalhas nos foram atiradas, as lideranças político-partidárias encasteladas na Administração Central geriram a Empresa como se ela lhes pertencesse. Agora nos força a socialização dos custos e dos prejuízos da péssima administração por que passou nossa Empresa nos últimos 25 anos.
Não bastou negarem reajustes salariais dignos, agora querem saquear nossos direitos conquistados com tantos sacrifícios nas campanhas salariais. Chamam nossas conquistas de privilégios, e ainda acusam nosso Plano de Saúde de ser o causador de todo o mau por que passa os Correios.
Companheiros! Vamos nos unir e resistir. Vamos lutar! O Correios é do Povo brasileiro.
Somos nós, trabalhadores, que produzimos nossos salários. Nas agências atendendo aos clientes. Nos centros de distribuição, encaminhando todo o trafego postal. E nas ruas, entregando as cartas e encomendas que pagamos nosso plano de saúde. Não podemos pagar duas vezes pelo mesmo serviço, e ainda abrir mão de nossos benefícios.
NÃO à privatização! Pela manutenção de nosso Plano de Saúde, e em defesa de nossos direitos. Por um Correio Estatal, Público e de qualidade.
Texto de Diomédio Francisco Junior – Diretor da FINDECT e Secretário-geral do SINDECTEB Bauru